Mais de 40 mil novos casos de hepatites virais ocorreram no Brasil no ano passado. Meta da OMS é erradicar a doença até 2030.
Talvez você se depare, ao longo do mês de julho, com faixinhas amarelas em postos de saúde, clínicas e hospitais. Elas fazem parte de uma campanha nacional, capitaneada pelo Ministério da Saúde, sobre hepatites virais. Só no ano passado, foram registrados mais de 42 mil novos casos dessas doenças no país. Mas será que você sabe o que é uma hepatite? Quais são seus sinais e sintomas? Como se ‘pega’? E o que fazer para se proteger?
Nesse Julho Amarelo, confira a seguir um guia completo com as informações essenciais sobre hepatites virais do Hospital Evangélico de Sorocaba e aprenda como proteger sua saúde!
Dia 27 de julho é o Dia Mundial de Luta Contra Hepatites Virais – para complementar e ‘regionalizar’ essa data mundial, o Ministério da Saúde criou o ‘Julho Amarelo’ em 2019.
O que é uma ‘hepatite viral’?
Hepatite é uma doença inflamatória que impacta o fígado. E ‘viral’ indica, é claro, que ela é causada por um vírus – o que é um qualificador importante, já que outros fatores, além de vírus, podem causar hepatite, como o consumo exagerado de álcool e de outras drogas e certas doenças autoimunes, metabólicas e genéticas. Hoje, porém, vamos focar no tipo viral, que é o mais comum.
Existem vários tipos de vírus que causam hepatites. Há as chamadas hepatite A, hepatite B e hepatite C, que são as mais frequentes. Existem, ainda, a hepatite D (bem mais rara, encontrada principalmente na região norte do Brasil) e a hepatite E, muito pouco comum no país. A lista do ‘alfabeto’ da hepatite vai até a letra G, mas estes outros casos são de incidência ou relevância menor aqui no país.
No Brasil, dados de 2023 do Ministério da Saúde estimam que 520 mil pessoas tenham hepatite C, mas ainda sem diagnóstico nem tratamento – ou seja, estão com a doença, mas ainda nem sabem!
A hepatite é uma doença silenciosa. Ela pode comprometer o fígado durante anos, sem sintomas aparentes. Quando eles aparecem, a doença já pode estar bastante avançada. Quando não cuidada, a hepatite pode levar à fibrose avançada, à cirrose ou ao câncer de fígado. Nestes estágios, torna-se muito perigosa e potencialmente fatal.
Dados globais apontam que mais de 1.4 milhão de mortes anualmente podem ser correlacionadas a hepatites, decorrentes especialmente de infecções agudas, câncer hepático ou cirrose.
Como tornar a hepatite uma doença do passado!
O Brasil é visto como um bom exemplo de combate às hepatites. No país, existe uma campanha de vacinação gratuita contra a hepatite B, e é comum vermos mutirões de conscientização sobre a doença, incluindo a realização de testes rápidos – tais iniciativas são ainda mais comuns agora em julho, mês da campanha amarela.
O Organização Mundial da Saúde possui uma meta: erradicar as hepatites virais em todo o mundo até 2030. O objetivo é esse mesmo: fazer com que uma doença que afeta, hoje, milhões de pessoas, simplesmente não exista mais. Isso significa que há maneiras muito eficientes de combatê-la e preveni-la, como veremos a seguir.
O vírus da hepatite é como o da gripe, se pega pelo ar?
Felizmente, o vírus da hepatite não é transmitido pelo ar, como o da gripe! A maneira de se contaminar depende do tipo de vírus. Para todos os casos, todavia, existem formas de se evitar o contágio.
Hepatite A: este é o tipo mais comum de hepatite, mas também o mais ‘simples’. Ele gera infecções leves e que se curam naturalmente – é comum o tratamento nem mesmo envolver o uso de medicamentos. No Brasil, menos de 2% dos óbitos por hepatite são relacionados ao tipo A. E como se ‘pega’ hepatite A? A contaminação se dá por contato direto com elementos contaminados pelo vírus, especialmente dejetos e alimentos. A fim de se proteger, portanto, seguir medidas básicas de higiene já basta. Entre as principais: lavar as mãos frequentemente, especialmente depois de ir ao banheiro, após mexer em fraldas e antes de cozinhar; sempre consumir água tratada, inclusive para cozinhar; lavar bem os alimentos e cozinhá-los adequadamente; tomar cuidados durante os encontros sexuais, com uso de preservativos e correta higienização pós-relação.
Hepatites B e C: estes dois tipos geram doenças crônicas, ou seja, que nunca são completamente curadas. São, também, as mais perigosas – aqui no Brasil, o vírus C é o de maior letalidade, correspondendo a mais de 75% dos óbitos relacionados às hepatites. Em ambos os casos, o meio de contaminação é pelo contato do sangue com o vírus – seja por meio de objetos cortantes, seringas, agulhas, lâminas de barbear, alicates de unha etc – ou por relações sexuais.
Quando falamos em ‘contato do sangue com o vírus’, veja que não mencionamos a transfusão de sangue. Isso porque existe, já há várias décadas, um controle extremamente sofisticado do sangue utilizado em doações, e os riscos de contaminação por esse meio são praticamente inexistentes.
Quanto à contaminação do sangue pelos vírus da hepatite, isso costuma ocorrer via o contato com objetos perfurantes, então é fácil imaginar que existem certas parcelas da população mais vulneráveis às infecções. Elas costumam ser o alvo de ações da saúde pública, em movimentos de vacinação e conscientização. Todavia, note-se que qualquer pessoa está vulnerável a esse tipo de infecção: compartilhar qualquer objeto que possa entrar em contato com o sangue, mesmo lâminas de barbear, materiais de manicure e pedicure e escovas de dente, pode levar a estas doenças. Por isso, a orientação é evitar compartilhar esse tipo de objeto mais íntimo, além de garantir sua correta limpeza após o uso.
O vírus também pode ser transmitido pelo contato sexual. O uso de preservativos em todos os tipos de relação é a maneira ideal de se proteger. Além disso, é importante a testagem de mulheres grávidas ou com a intenção de se tornarem mães, já que o vírus pode passar para o bebê.
Como reconhecer uma hepatite?
Os principais sintomas relacionados à inflamação no fígado são:
- Cansaço
- Febre
- Tontura
- Enjoo
- Vômitos
- Dores abdominais
- Coloração amarelada nos olhos e na pele
- Urina escura
- Fezes claras
Em praticamente qualquer centro de saúde, seja público ou privado, é possível encontrar testes rápidos para hepatite. O Ministério da Saúde indica que todas as pessoas deveriam ser testadas pelo menos uma vez na vida para os tipos de hepatite mais comuns (A, B e C).
Como é o tratamento da hepatite?
Felizmente, as hepatites são, atualmente, doenças controláveis na enorme maioria dos casos. Com o auxílio médico correto, o paciente poderá recobrar a saúde em pouco tempo.
Hepatite A: no geral, recomenda-se repouso e cuidados com a dieta. A doença costuma afetar pouco o organismo, que com o mínimo de ‘ajuda’ (descanso, boa alimentação etc) é capaz de se recuperar.
Hepatite B: esse tipo, em específico, ainda não possui uma cura. Todavia, isso não significa que a pessoa permanecerá ‘doente’ para sempre. Existem medicamentos que ajudam a controlar a multiplicação do vírus e reduzem os riscos de progressão da doença, protegendo o fígado contra possíveis complicações e permitindo uma alta qualidade de vida.
Hepatite C: para curar esses casos, são utilizados medicamentos antivirais por um período de 08 a 12 semanas. Com isso, as taxas de cura chegam a mais de 95% dos casos.
Em todos os tipos de hepatite, um fator é fundamental para uma rápida recuperação: a qualidade do que se ingere. O consumo de álcool precisa ser terminantemente proibido – como sabemos, a hepatite gera um fígado doente, e o álcool afeta muito este órgão, responsável pela eliminação da substância do organismo. Além disso, a qualidade da dieta é essencial para uma boa recuperação: indica-se o consumo de carnes magras, de muitas verduras, frutas e cerais integrais, que nutrem o corpo com vitaminas, micronutrientes e antioxidantes importantes para a recuperação tanto do fígado quanto do organismo como um todo.
Vacinação e prevenção
A melhor maneira de manter o organismo protegido é se vacinar. 2024 celebra 10 anos da inclusão da vacina contra hepatite no calendário nacional de imunização, para crianças de 15 meses até 05 anos. Não à toa, desde então os números da doença despencaram no país.
Entre 2012 e 2014, a incidência de hepatite na população era de cerca de 3 casos a cada 100 mil pessoas. Em 2015, caiu pela metade (1.6 caso a cada 100 mil). Desde então, e até 2023, a taxa se mantém em 1 caso a cada 100 mil pessoas ou abaixo desse patamar.
Atualmente, existem vacinas altamente eficazes e seguras contra as hepatites A e B. A vacina contra a hepatite B, inclusive, protege também o organismo contra a hepatite D.
Você se lembra da menção à OMS neste texto? A entidade quer erradicar as hepatites virais até 2030 em todo o mundo. Pode parecer um desejo ‘exagerado’ eliminar para sempre uma doença, mas, como vimos, isso pode ser possível. Em primeiro lugar, a vacinação é o principal segredo para um combate eficiente e duradouro contra os vírus que causam as hepatites. Associada a campanhas de conscientização, que ajudam a explicar a importância de uma boa higiene, de evitar compartilhar itens pessoais e de manter-se protegido durante as relações sexuais, temos estratégias poderosas a fim de colocar as hepatites virais nos livros de história da Medicina. Neste Julho Amarelo, cuide de seu fígado e ajude o mundo a atingir este nobre objetivo!
Para saber mais
Dados do Ministério da Saúde:
Painel epidemiológico no Brasil (Ministério da Saúde)
ABCDE das hepatites virais para agentes comunitários de saúde. Ministério da Saúde.