A sepse é considerada a maior causa de morte evitável em todo o mundo. Entenda o que é essa condição, como reconhecer os sintomas e o que fazer para evitá-la.
Você sabe o quão importante é o termo sepse para quem trabalha na área médica? A resposta pode impressionar muita gente. Afinal, sepse é algo que todo médico conhece a fundo, mas um termo que ainda é desconhecido por boa parte da população.
Como a sepse, no geral, não é vista como uma ‘doença’ em si, às vezes ela nem é mencionada em listas dos problemas de saúde mais perigosos, o que acaba mascarando sua enorme relevância. A sepse é uma das maiores causas de mortes todos os anos no mundo (segundo alguns estudos, é a causa principal). É, também, a principal causa de mortes evitáveis no mundo. A depender da severidade dessa condição, a taxa de sobrevivência não é alta, e mesmo quem conseguiu superá-la pode ter sequelas graves por toda a vida. Por isso mesmo, a sepse é um dos assuntos mais discutidos por profissionais da saúde, um dos mais prevenidos dentro dos hospitais, um dos mais bem tratados quando os sinais aparecem. A sepse pode ser muito, muito perigosa, e o tratamento rápido e de qualidade é essencial.
13 de setembro é o Dia Mundial da Sepse, campanha criada em 2012 pela Global Sepsis Alliance e que une entidades de saúde de todo o mundo para conscientização sobre a condição. A cor da campanha é o rosa. Saiba mais no vídeo a seguir!
Segundo estudos publicados em 2020, a sepse representa pelo menos 20% de todas as mortes no mundo. Anualmente, ela afeta entre 40 e 50 milhões de pessoas, causando cerca de 11 milhões de falecimentos. Aqui no Brasil, há mais de 400 mil casos notificados todos os anos.
A sepse é considerada a maior causa de morte evitável em todo o mundo.
Mas o que exatamente significa “sepse”? Por que ele é tão relevante? Hoje, vamos entender o que está por trás desse termo, quais são suas consequências para o corpo, como ela é tratada e como pode ser prevenida.
Para começo de conversa: o que é a sepse?
A sepse é uma ‘resposta exacerbada’ do corpo a uma infecção.
Ela ocorre quando o sistema imune está funcionando de forma tão ‘amplificada’ que, mais que combater uma infecção, ele acaba causando graves danos ao próprio organismo. É como se o corpo, na tentativa de combater os microrganismos invasores, gerasse um ‘ataque interno’ tão forte que acabasse ferindo-se a si próprio no processo.
Pegar uma infecção é algo corriqueiro – todos nós já fomos infectados (várias vezes!) por bactérias, fungos, vírus ou outros microrganismos capazes de causar problemas para a saúde. E todos nós ainda seremos infectados por eles muitas e muitas vezes no futuro! Na enorme maioria dos casos, o sistema imune é plenamente capaz de combater esses invasores, usualmente de forma tão eficiente que mal temos sintomas. O combate é localizado, focado naquele órgão ou região afetados pelos microrganismos, trazendo uma cura rápida. Em outras situações, a cura pode levar alguns dias (e demandar o uso de medicamentos para ajudar a resposta imune), mas também é completada com enorme sucesso e sem sequelas.
Em algumas situações, todavia, o sistema imune falha. Algumas infecções são capazes de desencadear uma resposta extrema, que não diminui de intensidade e nem fica restrita apenas a uma região do organismo. O corpo inteiro fica em estado de ‘combate’ por um longo período, com processos inflamatórios internos funcionando a todo vapor. Ao longo do tempo, isso gera danos em tecidos e órgãos dos mais diversos, resultando em choque e falha múltipla de órgãos, podendo ser fatal. Essa é a sepse.
Todo mundo pode pegar uma infecção. E quase todas as infecções podem resultar em sepse. Algumas infecções comuns e que podem evoluir para sepse são infecções do trato urinário, meningite, COVID-19, pneumonia, infecções no sangue e abdominais (como apendicite).
Conforme a sepse avança, a pressão sanguínea pode cair consideravelmente, resultado da dilatação dos vasos sanguíneos ocasionada pelo processo inflamatório. Com isso, órgãos vitais – como o cérebro, o coração e os rins – passam a receber menos sangue, oxigênio e nutrientes do que o necessário para seu bom funcionamento. Ao mesmo tempo, a permeabilidade dos vasos aumenta; como consequência, o sangue e outros fluidos podem extravasar para regiões em que não deveriam estar, como os pulmões. Com o passar do tempo, podem se formar pequenos coágulos pelo corpo, ou então vasos sanguíneos se romperem, causando gravíssimos danos à saúde (essa condição é conhecida como coagulação intravascular disseminada (CIVD)).
Como podemos perceber, a sepse é uma situação crítica, capaz de afetar o corpo inteiro. Por isso mesmo, curá-la nem sempre é simples – ainda mais considerando-se que há uma infecção na base de todos esses problemas, que precisa ser combatida ao mesmo tempo em que são tratadas as consequências da sepse.
Sinais comuns da sepse
Em pessoas com sepse, os sintomas abaixo são bastante comuns. Nem todos ocorrem em todos os casos, e nem todos aparecem simultaneamente. Os sintomas decorrem do tipo de infecção que o paciente tem – por exemplo, sintomas relacionados à dificuldade de urinar são mais comuns em quem está com infecções no trato urogenital. Mas, no geral, os sintomas mais identificados são:
- Febre
- Também é comum a temperatura baixar sensivelmente, acompanhada de calafrios
- Batimentos cardíacos acelerados
- Respiração acelerada e não muito profunda
- Pressão baixa
- Baixa produção de urina
- Dores pelo corpo, que podem ser bastante fortes
- Confusão mental, ou sentir dificuldade de pensar ou se concentrar
- Pele com aspecto ‘úmido’, ‘pegajoso’
- Sudorese
A campanha do Dia Mundial da Sepse deste ano traz uma maneira inovadora para decorar quais são os sintomas da sepse. Confira na imagem a seguir (imagem ‘SEPSE = Sensação de confusão mental, Extremos tremores, Passar o dia sem urinar etc’)
É possível tratar a sepse?
Hoje em dia, a sepse é uma condição tratável – desde que seja identificada o quanto antes e seja cuidada por uma equipe médica especializada.
A parte mais importante da cura é identificar o microrganismo causador da infecção e combatê-lo com medicamentos de alta eficiência, como antibióticos. As equipes médicas poderão determinar se os causadores dos problemas são vírus, bactérias, parasitas ou fungos, e tratá-los de acordo.
Este é um ponto crítico: é fundamental eliminar a causa da sepse, para que o processo inflamatório do organismo cesse. Quase todos os microrganismos podem ser combatidos com a ajuda de medicamentos hoje em dia. Os maiores ‘vilões’ desta história são as bactérias, que podem ser resistentes a antibióticos. Nesses casos, o corpo precisará de ainda mais ajuda da equipe médica a fim de se recuperar. Quanto antes os tratamentos forem iniciados, melhores as chances de cura.
Os demais sintomas da sepse são tratados de acordo com cada paciente. É comum o uso de fluidos intravenosos a fim de controlar a pressão sanguínea e para fornecer nutrientes ao corpo, garantindo o fluxo de sangue para todos os órgãos vitais. Em casos graves, em que os rins já foram prejudicados, pode ser necessária a hemodiálise. Caso haja infiltração de fluidos nos pulmões ou danos aos tecidos do órgão, o paciente pode ser colocado em esquema de respiração mecânica. Em casos mais extremos, podem ser necessárias cirurgias de remoção de tecidos já danificados.
O CHOQUE SÉPTICO
Uma das consequências mais perigosas da sepse é o choque séptico. Esse termo ‘choque’ já indica a gravidade de seu impacto. O choque séptico aumenta consideravelmente os riscos à vida do paciente – algumas estimativas apontam uma mortalidade de 30 a 50% nesses casos. Todo cuidado é pouco a fim de evitá-lo.
Quando a sepse está muito avançada, ela pode causar uma queda extremamente acentuada na pressão sanguínea, tão grave que gera danos aos pulmões, ao fígado, aos rins e a outros órgãos. Esse é o choque séptico. Sinais de que ele está ocorrendo são: impossibilidade de ficar de pé, sensação de sono profundo e extrema confusão mental.
Quais grupos estão mais propensos a ter sepse?
Apesar de qualquer pessoa poder pegar uma infecção que evolua para sepse, existem alguns grupos de risco, nos quais a probabilidade é maior. São eles:
- Neonatos
- Idosos acima dos 65 anos
- Grávidas (ou que estiveram recentemente grávidas)
- Pessoas hospitalizadas
- Pacientes em UTI
- Pessoas com o sistema imune comprometido
- Por exemplo, aquelas que estão sendo tratadas contra um câncer ou que tenham HIV
- Pessoas com doenças crônicas
- Alguns exemplos são diabetes, doenças renais e cirrose
O que é possível fazer para evitar a sepse?
Você talvez já tenha ouvido falar que a sepse está intimamente relacionada a internações hospitalares. Apesar de a maioria das infecções que causam sepse serem contraídas fora do ambiente hospitalar, é verdade que a sepse é uma possível consequência de períodos prolongados em hospitais, especialmente em UTIs. Há diversas razões para isso, que vão desde o uso de medicamentos que reduzem a eficiência do sistema imune (como aqueles que combatem o câncer) até a ampliação no suporte médico a pessoas mais idosas, também mais propensas a infecções graves.
O próprio ambiente hospitalar é mais propício a conter microrganismos perigosos para a saúde, por motivos óbvios. Por isso, a qualidade do atendimento médico que um paciente recebe é crucial a fim de evitar a sepse, assim como para tratá-la caso ela apareça. Tanto é verdade que os índices de sepse são bastante díspares ao redor do mundo: nos países em que o sistema de saúde é melhor, há muito menos casos e mortes por sepse do que em locais ainda pouco desenvolvidos.
No Brasil, a sepse é responsável por aproximadamente 25% das ocupações nos leitos de UTI, segundo dados do Instituto Latino-Americano de Sepse (Ilas)
A importância de um suporte de saúde de qualidade
É essencial, portanto, que o centro de saúde siga protocolos rigorosos de qualidade no atendimento. Hoje em dia, hospitais de referência como o Hospital Evangélico de Sorocaba possuem protocolos de controle de sepse que determinam as melhores práticas para manter um ambiente hospitalar em excelentes condições sanitárias, com quartos e equipamentos de uso pessoal limpos, uso de instrumentos esterilizados e equipes sempre atentas à higiene pessoal e do paciente. Durante tratamentos, cirurgias e interações entre médicos e pacientes, a atenção a fim de evitar contaminações é sempre uma prioridade, e envolve desde os médicos às equipes de enfermagem e dos laboratórios. Além disso, o protocolo inclui monitoramento constante e detalhado da saúde dos internados, o que garante ação rápida em caso de notificações de quaisquer sintomas que possam indicar um início de sepse.
Vale lembrar que não é só em hospitais que a sepse pode aparecer. Alguns estudos indicam, inclusive, que na maior parte dos casos os pacientes já chegam ao hospital com um princípio de sepse no corpo. Por isso, estar atento à própria saúde e a das pessoas ao seu redor é tão importante. Caso perceba quaisquer dos sintomas listados acima, procure com urgência um centro de saúde.
Além disso, fortalecer o sistema imune é sempre relevante. Quanto mais forte estiver o corpo, melhor ele poderá lutar contra infecções. Pessoas que moram em locais com bom saneamento básico e que tenham acesso a água e alimentos de boa qualidade estão mais protegidas contra a sepse. Quem segue bons hábitos de higiene – como lavar as mãos com frequência e preparar alimentos em condições corretas -, também. Outros pontos que podem ajudar a prevenir a sepse são seguir o esquema vacinal, manter uma dieta saudável e alimentar os pequenos com o leite materno.
Caso perceba sintomas de infecções que não vão embora, ou quaisquer dos itens da lista acima sobre sinais da sepse, não perca tempo e procure ajuda médica. Tempo é fundamental. Quanto antes a infecção na base do problema for curada, melhor o corpo poderá se recuperar desse ‘excesso de atividade imune’ que caracteriza a sepse, e menores serão os danos sistêmicos. Idealmente, procure centros de saúde de excelência, que sigam protocolos rigorosos de higiene e monitoramento da saúde do paciente. Com cuidado, atenção e conhecimento, a sepse pode ser vencida.
PARA SABER MAIS
- Campanha do Dia Mundial da Sepse: https://www.worldsepsisday.org/
- Números da sepse no mundo: Rudd KE, Johnson SC, Agesa KM, Shackelford KA, Tsoi D, Kievlan DR, Colombara DV, Ikuta KS, Kissoon N, Finfer S, Fleischmann-Struzek C, Machado FR, Reinhart KK, Rowan K, Seymour CW, Watson RS, West TE, Marinho F, Hay SI, Lozano R, Lopez AD, Angus DC, Murray CJL, Naghavi M. Global, regional, and national sepsis incidence and mortality, 1990-2017: analysis for the Global Burden of Disease Study. Lancet. 2020 Jan 18;395(10219):200-211. doi: 10.1016/S0140-6736(19)32989-7.
- Informações gerais sobre a sepse: https://www.cdc.gov/sepsis/about/index.html
- O impacto global da sepse na saúde – relatório da OMS: https://www.who.int/publications/i/item/9789240010789